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** By ROBERTO CHRISTO **

segunda-feira, 30 de junho de 2014

A Comédia do Sec.XXI

Alejandra Sampaio no "É SUSreal!"

A comédia é, geralmente, um gênero agradável e que pode ser formatado de diferentes maneiras. Temos o "pastelão" que se baseia nos exageros surreais dos desenhos animados; ou a diversão humorística que brinca com os problemas do cotidiano social, como propôs Molière... Eu, particularmente, adoro a comédia de improvisos, tipo o trabalho da Tatá Werneck, um humor ácido que é contado de forma fria, sem emoção, um trabalho de ator que é gerado e concebido no momento! Já em tempos de politicamente correto, o humor negro passou a ser algo delicado; bem como, produzir comédia passou a ser um "andar" na corda bamba. Enfim, esta é uma mania de quem trabalha com audiovisual, parece que estamos sempre à frente de uma linha de produção industrial, naquela função de rotular aquilo que se vê! Parece que estamos sempre tentando adequar tal produto a um estilo! Tudo isto com a finalidade de se deparar com uma inovação do estilo e da arte de se comunicar. Mas, inovar é difícil! É um processo árduo desde a criação até a veiculação e seus meios. Estamos em uma era que tudo muda muito rápido e acabamos por ver uma estagnação criativa, tudo se torna muito efêmero. Esta realidade se torna um desafio! Mas, por incrível que pareça, há poucos dias o meu lado industrial se deparou com um novo!

Ao assistir, recentemente, ao programa piloto, da nova série comédia, produzido pelos amigos da "Pensamentos Filmados", me dei conta que havia deixado de lado esta minha mania profissional, de maneira inconsciente, quando me peguei dando risadas e entretido na telinha do youtube, como um espectador real!

Adorei a experiência e fui elogiar o trabalho desta série cômica de esquetes, junto a um dos criadores, o cineasta Geison Ferreira Luz. Foi quando o Geison me pediu uma opinião, enquanto profissional da área, pois aquele era um trabalho de produção e atuação totalmente diferente das coisas que ele costuma fazer! Daí botei a cabeça para analisar o porquê eu me comportei de maneira diferente diante daquela obra (fui dominado por um magia enquanto espectador) e descobri que, realmente, a "Pensamentos Filmados" acabou por criar um divisor de águas na comédia. 

Vamos às minhas impressões!

O programa piloto tem nota "10" na parte técnica: arte, produção, fotografia e áudio estão impecáveis! O trabalho dos atores é ímpar, a grande Alejandra Sampaio (indicada a melhor atriz pelo espetáculo "Cais ou Da Indiferença das Embarcações") está mais do que perfeita; está leve; está representando no ponto suave do estereótipo proposto, sem deixar de ser mega cômica! O Geison Ferreira Luz inova na atuação ao deixar de lado a caricatura de gestual e voz quando faz uma mulher, ou quem sabe um transgênero ou talvez um homem que se sente bem, quando travestido. Ele deixou esta diferença visível, invisível! Afinal é assim que devemos encarar o natural!

Aí chegamos ao ponto! Para dialogar com todos os públicos, passar a mensagem do âmago, se aproximar do humano, é preciso ser casual, fazer um estereótipo sem caricaturas sociais e deixar a luz para a questão em voga, no caso do programa "É SUSreal!", o problema da saúde... uma saúde de ordem pública e pessoal. Um problema, que no lado humano e pessoal, é tratado como tabu, uma vez que uma patologia mental é motivo de vergonha para aqueles que padecem deste mal. Um problema, que no âmbito de saúde pública, quando debatido, suscita a velha e chata disputa das ideologias políticas pessoais de uma sociedade que se esquece que a diversidade de opiniões políticas, também é salutar. Que paremos de impor nossas verdades, como as absolutas, quando discutimos política com outros. Pois esta discussão é como um cão correndo atrás do rabo, nunca atinge um objetivo.

Brincar com o visual da diversidade sem comprometer o foco é um humor novo e inteligente. Aqui incluímos todos, de maneira democrática, e subentendemos que os problemas de saúde mental são suceptíveis à diversidade, à todos o seres, à todas as categorias sociais, culturais, étnicas, sexuais e etc.

Fazer brincadeiras também é uma maneira de burlar a barreira do tabu; de nos mostrarmos tolerantes ás ideias alheias.

Aquilo que vemos não é sempre a verdade. Precisamos enxergar e não ver!

Quanto ao "É SUSreal!", a mente pôde ser sentida através desta obra, ao mesmo tempo que vista através desses PENSAMENTOS FILMADOS.

Parabéns, Geison Ferreira Luz, Ana Maria Saad, Alejandra Sampaio e equipe, vocês brilharam!

Quero abrir caminhos para a "Pensamento Filmados" junto aos possíveis patrocinadores da cultura e responsabilidade social e ou demais colaboradores, dizendo que nenhuma conquista é possível sem a participação de vocês! Participação que viabiliza ações e que visam a construção, através das artes, de um mundo onde qualquer pessoa possa ser um cidadão com dignidade.

Para os interessados em colaborar e investir na cultura, o contato da ONG é: contato@pensamentosfilmados.com.br

Beijos do ROBERTO CHRISTO

 

Assista ao "É SUSreal!":

 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

"Games People Play" by Dawn Westlake


 English
Recentemente anunciei que a incrível diretora, atriz e produtora, Dawn Westlake (Ron de Cana Produtora) dedicava parte de sua agenda lotada, realizando a produção e direção de seu novo filme “Games People Play”. Trabalho que conta com a cinematografia e montagem do talentoso artista, Jon Carr.

Muito já foi feito e a obra filmada com uma C500 da Canon já está em fase de finalização. O sonho de Dawn em transformar um drama real, da relação afetiva que a diretora presenciou entre amigos, em uma comédia de humor negro se fez valer!

No filme, a multimídia Dawn Westlake atua ao lado de David Razowsky e Mark Jacobson. 

Agora é esperar pelo lançamento de “Games People Play”!

por ROBERTO CHRISTO

 

Assista ao trailer:


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Carta aberta a Marilene Chauí e Jean Wyllys


Eu, recentemente, me deparei com duas manifestações proferidas por interlocutores de peso. Ambas são julgamentos pessoais que me dão o direito de resposta, enquanto cidadão. 

A primeira foi através de um vídeo, apresentado por um amigo, quando a Sra Marilene Chauí chama a classe média de estúpida, arrogante, petulante, ignorante e terrorista. Veja o vídeo abaixo:


Sra Marilene Chauí, a média é uma maneira de se calcular aquilo que seja democrático, de procurar e desenvolver pesquisas que melhorem nossas vidas, de construir um acesso à todos, de evitar a falta, de se poupar do excesso. 

Eu sou da classe média, cresci e fui educado na classe média. Minhas origens, até onde eu tenho conhecimento, são uma mescla de etnias europeias, mas como faço parte da média dos brasileiros que vem de onde eu venho, com certeza, tenho genes afrodescendentes e sefaradis! Para se chegar à algo mais preciso, basta calcular a média dos resultados do meu material genético. 

Meus pais são da classe média, me deram uma educação de valores, pautada no respeito e amor ao próximo. Sempre me ensinaram a ver a diversidade como algo mediano, nunca extremista, assim fica mais fácil exercer a tolerância e enxergar as diferenças como a grande fatia da média.

A segunda foi através do site Terra que publicou um comentário sobre o comportamento daqueles que assistiam ao jogo de abertura da Copa 2014, escrito pelo Deputado federal pelo PSOL do Rio, Jean Wyllys. Veja abaixo:

“Sim, eu senti vergonha por conta da vaia e do insulto à presidenta Dilma no jogo de abertura da Copa do Mundo. Sim, a vergonha foi maior porque a gente que puxou a vaia se considera "fina, culta e educada" e vive chamando de "mal-educados, grosseiros e sem-modos" aqueles que não têm a sua cor, a sua renda nem seus privilégios (inclusive o de poder adquirir o caríssimo ingresso para estar naquela arquibancada).

Sim, mal-educada, grosseira e sem-modo é mesmo aquela gente, que, pouco acostumada com a civilidade, não tem senso de oportunidade nem sabe fazer oposição política sem resvalar para a baixaria. Sim, os manifestantes que questionam, com razão, os custos da Copa e que têm motivos reais para perderem a cabeça em relação às políticas da presidenta (políticas que beneficiaram justamente os que estavam na arquibancada e na área VIP da arena) não caíram na baixaria do insulto pessoal à Dilma, embora sejam comumente chamados de "vândalos" e "baderneiros" pelos que insultaram a presidenta enquanto tomavam sua cerveja gelada.

Sim, eu faço oposição (à esquerda!) à presidenta Dilma, mas fazer oposição a ela não significa insultá-la de maneira covarde. Sim, eu faço oposição (à esquerda) à presidenta, mas fazer oposição não é cair em ataques pessoais, mas, sim, fazer crítica às políticas por ela implementadas.

Sim, há um tanto de misoginia e machismo odiosos no insulto proferido pela plateia branca e rica contra Dilma. Sim, eu não gostaria que Luciana Genro ou Manuela D'Ávila ou Erika Kokay ou Mara Gabrilli fossem insultadas daquela forma por uma turba de machos corajosos só quando estão em turba. Sim, sendo eu, todos os dias, vítima de insultos semelhantes motivados por homofobia, posso inferir a dor que a presidenta sentiu ao ouvir o insulto em coro.

Sim, a dignidade de Dilma (e sua dignidade existe apesar de suas atitudes políticas equivocadas e erros de gestão!) é a melhor resposta à indignidade daquela gente que a insultou. Sim, presidenta Dilma, você tem a minha solidariedade. Sim, coragem grande é poder dizer "sim"!
Jean Wyllys

Sr Jean Wyllys, o Sr age como o Hitler que definia a cor, o credo, a classe social, a orientação sexual e o estado de saúde das pessoas. Um Hitler que quer exterminar aqueles que julga como inferiores, baseando-se em fantasias e conjecturas (conjecturas: se você está no jogo da Copa é porque pôde pagar o ingresso! Se pôde pagar o ingresso, é porque pertence a classe XYZ! Se pertence à classe XYZ é da etnia tal! Se é da etnia tal, se acha mais educado que os outros! Se você se acha melhor que outros, você odeia os diferentes ou você é um egoísta, ou um acéfalo...).

Sr Jean Wyllys, o seu ódio é transparente quando fala daqueles que assistem ao jogo de abertura da Copa 2014! Você se baseia em características que fazem parte da diversidade fisicamente visível e que não deve ser referência para generalizar, desrespeitar a consciência individual e o livre pensamento. O senhor é gerador de ideias, por isso reflita se seu texto não é intolerante e parcial. Reflita se não há uma forte dose de "classemediafobia" e espero que repense suas futuras declarações.

Eu levo as afirmações do Deputado Jean Willys e da Sra Marilene Chauí como um rótulo negativo à minha condição étnica e minha classe social. Nem mesmo os trabalhadores do Censo, quando em pesquisa; ou os serviços de imigração; os órgãos públicos e privados me "pregam" tal tarja! Pois, quando querem saber da minha etnia e classe social perguntam: Qual a cor de pele que você considera ter? De qual etnia você se define? Qual dos grupos de níveis de renda familiar você se encaixa?

Alguns pensadores precisam se dar conta, que pensamento é democrático, é filosófico, é dialético, é pessoal, é escolha, é a liberdade de ser. Por favor! Eu não quero falar da política brasileira, pois é um assunto que eu, realmente, ignoro. Minha resposta é para mostrar  que me senti agredido, ridicularizado e menosprezado por uma certa classe de intelectuais! Intelectuais que têm acesso aos meios de comunicação. Pessoas que considero inteligentes, mas que estão cegas e doentes. Que, por conta de seu status social, político e profissional, querem impor seus pensamentos, como uma verdade absoluta. Pessoas que julgam, condenam e querem diminuir aqueles que eles fantasiam ser contrários às suas verdades. Pessoas que se utilizam de suas facilidades de comunicação para botar o dedo na cara alheia, ou que julgam pelas aparências e por suas fantasias.

por ROBERTO CHRISTO

 

terça-feira, 10 de junho de 2014

"A Curra" Uma Realidade no Palco!


Na última quinta feira, a convite do ator Marcos Ferraz, eu estive no Teatro Paiol para assistir ao espetáculo "A Curra", de Gladston Ramos e Sebah Vieira, que mostra o dia a dia de uma penitenciária. O mais bacana foi ver que a equipe tem garra e talento o bastante para fazer de um assunto denso, uma peça tocante, artística e de entretenimento!

No palco uma grade de ferro recria uma cela. Ali os atores encenam a falência do sistema prisional brasileiro e mostram o fim do sentido principal da pena de seus personagens: a reabilitação do condenado! Não há mais como ressocializar o encarcerado, que uma vez livre, volta à violência, ou morre ali mesmo, antes da liberdade.

O texto escancara o que vivemos: um sistema carcerário além do limite; uma superpopulação prisional vivendo em péssimas condições; uma situação que só serve para fazer do local, uma escola para a institucionalização do crime; um espaço sem respeito à dignidade humana; uma negligência com a prevenção de transmissão de DSTs, um desamor à vida!

O espetáculo é a ficção da realidade do descaso do poder público. Tanto na peça quanto na realidade, as penitenciárias brasileiras se tornaram os QGs do crime organizado, de lá são enviadas as ordens para que o "negócio" continue a acontecer do lado de fora. Através de subornos é possível obter telefones celulares, drogas ou outras regalias. As hierarquias são formadas dentre os próprios detentos, ali as leis são outras, a justiça é feita com as próprias mãos!

Para o bom entendedor, as críticas subliminares de "A Curra" mostram que precisamos abrir a mente e deixar de lado nossas simples soluções para o fim dessa violência que vivemos. Está enganado quem pensa que a redução da maioridade penal ou a adoção da pena de morte vai resolver os dois lados da moeda, vai fazer a sociedade enxergar o preso como um ser humano que merece respeito quanto a sua sexualidade, seu corpo, sua mente. Ainda há um grande caminho a percorrer, pois o mundo está experimentando qual a melhor forma de retirar da sociedade, punir e recuperar aqueles cidadãos que apresentem alguma ameaça à vida em comunidade. Mas, é importante ter consciência que o menosprezo gera revolta e que a violência contra a dignidade gera violência contra a sociedade.

Recomendo a todos a assistirem à peça, lembrando que, no decorrer deste mês, publicarei um bate papo com os atores: Danilo Almeida, Marcos Ferraz, Marco Mastronelli e Melissa Paixão, no www.revistacliquish.com. IMPERDÍVEL!

FICHA TÉCNICA: A CURRA

Texto: Gladston Ramos.
Direção: Sebah Vieira.
Elenco: Marco Mastronelli, Marcos Ferraz, Danilo Almeida, Melissa Paixão, Taiguara Nazareth, Will de Oliveira, Vagner Cezarey, Eliane Donabella e Bruno Nabuco.
Quintas, às 21h no Teatro Paiol Cultural - Rua Amaral Gurgel, 164 (Campos Elísios).

por ROBERTO CHRISTO

 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Setenta


O documentário "Setenta" entra em circuito nacional hoje. O filme teve sua première no Festival do Rio, já passou na 37ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo e foi premiado no Festival de João Pessoa.

Produzido pela jornalista Sandra Moreyra, o documentário se baseia em um fato histórico ocorrido no ano de 1970! Foi naquele ano que o embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, foi sequestrado. O ato tinha fins políticos, os sequestradores pediram a liberdade de 70 presos políticos, em troca da libertação do representante diplomático. 

É através do depoimento de 18 personagens que a história é revivida no filme! A obra, também, mostra o que o destino reservou para estas 70 vidas, após serem libertados.

Esperemos ansiosos para assistir!

por ROBERTO CHRISTO

 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A arte de Joana Vieira

Joana Vieira e Bigode

A artista plástica, Joana Vieira, apresenta sua arte com influências do barroco brasileiro, cujo tema chama a atenção para o nosso sincretismo religioso e sua miscelânea de ritos afros e cristãos. Paulistana com alma enraizada do nosso país, Joana expressa a visão de nossas tradições de maneira inclusiva. Suas obras nascem da junção da madeira, tintas, lantejoulas, tecidos e fotografias.

A percepção da arte é algo muito pessoal e vai de encontro com a características mais intrínsecas do espectador. No último 24 de maio, estivemos no evento de arte de Joana Vieira, que abriu a sua casa-atelier, para convidados. Foi uma grande oportunidade de ver de perto, a magnífica obra desta artista que celebra o heterogêneo, buscando elementos seculares, cujo conceito inicial se camufla por detrás do conservador!

Para ser contemporâneo, enaltecer a diversidade e se utilizar de bases tradicionais ou de raízes, é preciso ser inteligente e tocar os diversos inconscientes. Em tempos em que movimentos sociais lutam pela abolição do tradicional véu das mulheres iranianas e que no Brasil pedem pela retirada dos crucifixos das salas de instituições públicas para manutenção da laicidade do país, ou insistem no reconhecimento das crenças afro-brasileiras como religião, Joana Vieira usa de sua criatividade para mostrar que o inteligente é se comunicar de forma inversa, ou seja, valorizando as óbvias raízes que a atualidade taxou de conservadora, mas que, definitivamente, não são!

Ser inteligente e criativo é ir pela via contrária e mostrar o sagrado já introduzido do sincretismo! Arte é isto, arte é não banir as raízes, mas sim recria-las!
Promover a harmonia do diverso é criar um evento de arte com samba, música eletrônica, cachaça e espumante. É mostrar uma obra, nitidamente, com grande influência do Barroco católico, cristão! Porém, mesclada de referências "mundanas" (no melhor sentido da palavra)! 

Quando falo de diversidade aqui, digo respeito às diversas crenças, culturas e origens. O trabalho de Joana Vieira consegue fazer isto de forma impressa!

Seu mundo se divide em fatias de brasilidade, com seus elementos da cultura baiana embasada nas raízes africanas; com sua matéria prima que nos remete às fantasias do nosso carnaval. Uma outra fatia inclui um pouco do barroco andino, senti bastante influência da escola cuzquenha na obra da artista! Indo bem mais longe, há a fatia com influência da arte sacra filipina, cujo detalhe marcante fica com o vermelho (e demais cores) da tapeçaria intitulada "Sagrado Coração de Maria" que me trouxe a sensação de estar presente na famosa festa da "Sexta Feira da Paixão", em Manila, com seus ensanguentados corpos flagelados.

É claro, tudo que cito aqui provém da mesma influência cristã-ibérica, mas enfatizo que houve a haverá mutações desta realidade, assim como a interpretação da arte. Falar de espiritualidade através de símbolos é materializar um energia! Agora, é preciso espiritualizar a matéria resultante das nossas mutações físicas e culturais, mutações que geram diferenças. Diferenças que o homem resiste em aceitar. Negações que são motivos de guerras e disputas. 

Fazer da arte uma busca das raízes, pode ser uma maneira inclusiva de celebrar as variantes finais da sensibilidade, de se mostrar as diferenças de formas que migram aos extremos do mundo. É ter conhecimento que qualquer diferença se torna igual ou se torna invisível, quando enxergamos que a sua essência é a mesma, não importando se a artista clamou por São Jorge, talvez Ogum! Ou se ela homenageia o Espírito Santo, incluindo em sua obra as tradicionais lanternas de papel, presentes na festa budista de Vesak, e que pode representar o mesmo símbolo da libertação​​, em qualquer crença.

por ROBERTO CHRISTO

 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Eu sou Kelly Lima!


A expressão do artista não pode se restringir a uma linguagem somente, é preciso interagir com a humanidade e não com um público! A atriz, diretora e produtora, Kelly Lima, consegue sintetizar sua multi experiência quando desenvolve um trabalho que tem como finalidade o íntimo humano. Este é o momento de reunir, em um foco, aquilo que vivenciou como palhaça, atriz de teatro, atriz de cinema! Aquilo que aprendeu nas aulas de violino, nas aulas de francês! 


Como se não bastasse, faz das artes o caminho para administrar a vida, os negócios e a família. Assim conseguiu criar uma base estrutural para manter o prumo, mesmo depois de pender para os dois lados ou passar por tempestades causadas pela natureza da má fé alheia! Mas sempre, retorna ao seu ponto de equilíbrio.

Responsável pela primeira assistência de direção do curta metragem de Elder Fraga, que representa o Brasil no "Cannes Short Film Corner 2014"; pela co-direção do filme "Forca", indicado a melhor curta no "7 Continents Film Festival", na Índia, em 2013; agora ela se prepara para mergulhar de cabeça nos projetos de teatro infantil, além de poupar as energias para a co-direção de um filme baseado em um texto do Frei Betto, programada para o segundo semestre. 

Mais uma fase da vida, mais um novo visual!

Interessado nesta garra e fonte de boa sorte, escolhi esta artista para ser a minha entrevistada da semana. Confira abaixo suas respostas que ilustram bem seus planos, desejos e ações! Um texto que faz jus aos, também, títulos de jornalista e roteirista de Kelly Lima.


Há pouco mais de um ano nessa nova parceria com o autor e diretor,       Francisco Alves, já colhemos bons frutos: a montagem e circulação do espetáculo infantil "Ouvindo Estrelas" , vencedor de 2 prêmios no Festival de Teatro da Amazônia; o processo de criação e montagem de "Da Vinci, o Inventor", também para crianças, com previsão de estreia ainda este ano; e a produção de mais dois espetáculos adultos no Rio de Janeiro: "Casarão ao Vento", texto vencedor do 6º Concurso de Dramaturgia Brasil em Cena, promovido pelo Ministério da Cultura e Banco do Brasil e também "Riso Invisível" com estreia em Maio no Sesc Tijuca. 

Seus textos infantis são delicados e poéticos e acima de tudo, tem a preocupação de respeitar a inteligência e o senso crítico da criança, com o propósito de desmistificar o maniqueísmo tão abundante na literatura para esse público.
Já para o público adulto a poesia prevalece em meio aos apontamentos das injustiças sociais (sobre o machismo desnudado em "Casarão ao Vento" texto de época - séc XIX, mas atualíssimo) e nas relações humanas, especialmente naquelas que ocorrem nos bastidores, longe do olhar do público (no caso de "Riso Invisível") e que dizem respeito ao desejo e as necessidades de se sentir amado e aceito pelo outro.   

Ainda em 2014, esses espetáculos devem circular pelo país, especialmente nas regiões Norte e Nordeste e o trabalho de produção é intenso, mas extremamente gratificante.

É a mesma sensação que tenho das minhas primeiras experiências com o teatro. Essa relação que iniciou quando menina, numa escola da periferia de São Paulo. Eu tinha uns 13 anos, era "coordenadora da classe" e precisávamos de dinheiro para a festa de conclusão do ensino fundamental. Tive a ideia de fazer uma peça de teatro sem nunca ter ido a um espetáculo até então. Escrevi o texto sobre a vida das princesas depois da célebre frase "e viveram felizes para sempre", era uma comédia dramática. Minha professora de língua portuguesa, com quem até hoje mantenho contato, me incentivou e me orientou. Convidei outros alunos para compor o elenco, decidimos o figurino e a trilha sonora. Dirigi de acordo com a imagem que se formou na minha cabeça e todos contribuíram com suas próprias ideias. O resultado foi o pátio lotado em todas as apresentações. Cobramos ingressos a algo em torno de R$2,00. Foi uma delícia e conseguimos o dinheiro! Essa relação acabou estacionando por aqui por alguns bons anos.

Apesar da formação em roteiro e jornalismo, acabei indo parar na publicidade, o que foi extremamente importante para meu amadurecimento pessoal e profissional. Dolorido, é claro! Foram nessas experiências profissionais que percebi a riqueza das relações humanas, mesmo aquelas que entendemos como "desumanas", visto que no mundo corporativo uma pessoa é facilmente substituída por outra quando sua capacidade de produção não atende mais aos interesses da empresa. Ou melhor, das pessoas que administram essa empresa. E isso acontece geralmente no momento de maior fragilidade do empregado. Como se este fosse uma engrenagem que apresenta defeito e precisa ser substituída por uma peça nova. Pode parecer absurdo, mas passei a fazer analogias com as relações fora do trabalho e perceber que a fragilidade das relações humanas é minha fonte de inspiração. Passei a revisitar minhas histórias de infância com meus cinco irmãos e dezenas de primos, minha relação com meus dois filhos, com amores, com amigos, com meus pais. E é onde me encontro. Encontro minhas fragilidades, defeitos, anseios, neuroses... meus desejos: os realizados e aqueles que ficam por esperar ou que mudam de rumo. A vida é de uma riqueza infinita!! Todas elas, mesmo as (aparentemente) mais cotidianas e ditas "normais" ou "simples". 

Obviamente que para transformar essa avalanche de emoções, sensações e histórias em textos para teatro, cinema ou alguma  forma de arte (ou intenção de fazer arte), é preciso muito estudo, treino, pesquisas, trocas com outros seres inquietos que estão nessa jornada. São noites em claro, finais de semanas, feriados e pouco tempo para o ócio, para o "devir", para o devaneio. O que me faz falta. O que deve fazer falta a todos.

Porém, enquanto mulher emancipada, tenho uma intuição que grita pra dentro e ecoa: é no caminhar que está a realização!! E mesmo que nesse caminho encontremos pessoas muito mal intencionadas, situações pouco ou nada favoráveis, que tenhamos que dar dois passos para trás pra ganhar impulso, ou que tenhamos que parar por momentos e esperar a tempestade acalmar (o que eu diria ser as grandes oportunidades para o devir**), enfim, é esse o caminho!! Sigamos, pois!

**Devir (do latim devenire, chegar) é um conceito filosófico que significa as mudanças pelas quais passam as coisas. (fonte Wikipedia)

Parabéns pela capacidade de redigir este belo texto baseado nas minhas perguntas.

por ROBERTO CHRISTO

 

Na direção cinematográfica

Na direção

Na direção

Como palhaça

No palco

No palco

Como Mestre de Cerimônia

Como Mestre de Cerimônia



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