Na última quinta feira, a convite do ator Marcos Ferraz, eu estive no
Teatro Paiol para assistir ao espetáculo "A Curra", de Gladston Ramos e
Sebah Vieira, que mostra o dia a dia de uma penitenciária. O mais bacana
foi ver que a equipe tem garra e talento o bastante para fazer de um
assunto denso, uma peça tocante, artística e de entretenimento!
No palco uma grade de ferro recria uma cela. Ali os atores encenam a
falência do sistema prisional brasileiro e mostram o fim do sentido
principal da pena de seus personagens: a reabilitação do condenado! Não
há mais como ressocializar o encarcerado, que uma vez livre, volta à violência, ou morre ali mesmo, antes da liberdade.
O texto escancara o que vivemos: um sistema carcerário além do limite;
uma superpopulação prisional vivendo em péssimas condições; uma situação
que só serve para fazer do local, uma escola para a institucionalização
do crime; um espaço sem respeito à dignidade humana; uma negligência
com a prevenção de transmissão de DSTs, um desamor à vida!
O espetáculo é a ficção da realidade do descaso do poder público. Tanto
na peça quanto na realidade, as penitenciárias brasileiras se tornaram
os QGs do crime organizado, de lá são enviadas as ordens para que o
"negócio" continue a acontecer do lado de fora. Através de subornos é
possível obter telefones celulares, drogas ou outras regalias. As
hierarquias são formadas dentre os próprios detentos, ali as leis são
outras, a justiça é feita com as próprias mãos!
Para o bom entendedor, as críticas subliminares de "A Curra" mostram que
precisamos abrir a mente e deixar de lado nossas simples soluções para o
fim dessa violência que vivemos. Está enganado quem pensa que a redução
da maioridade penal ou a adoção da pena de morte vai resolver os dois
lados da moeda, vai fazer a sociedade enxergar o preso como um ser
humano que merece respeito quanto a sua sexualidade, seu corpo, sua
mente. Ainda há um grande caminho a percorrer, pois o mundo está
experimentando qual a melhor forma de retirar da sociedade, punir e
recuperar aqueles cidadãos que apresentem alguma ameaça à vida em
comunidade. Mas, é importante ter consciência que o menosprezo gera
revolta e que a violência contra a dignidade gera violência contra a
sociedade.
Recomendo a todos a assistirem à peça, lembrando que, no decorrer deste
mês, publicarei um bate papo com os atores: Danilo Almeida, Marcos
Ferraz, Marco Mastronelli e Melissa Paixão, no www.revistacliquish.com.
IMPERDÍVEL!
FICHA TÉCNICA: A CURRA
Texto: Gladston Ramos.
Direção: Sebah Vieira.
Elenco: Marco Mastronelli, Marcos Ferraz, Danilo Almeida, Melissa Paixão, Taiguara Nazareth, Will de Oliveira, Vagner Cezarey, Eliane Donabella e Bruno Nabuco.
Quintas, às 21h no Teatro Paiol Cultural - Rua Amaral Gurgel, 164 (Campos Elísios).
por ROBERTO CHRISTO
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