Joana Vieira e Bigode |
A artista plástica, Joana Vieira, apresenta sua arte com influências do
barroco brasileiro, cujo tema chama a atenção para o nosso sincretismo
religioso e sua miscelânea de ritos afros e cristãos. Paulistana com
alma enraizada do nosso país, Joana expressa a visão de nossas tradições
de maneira inclusiva. Suas obras nascem da junção da madeira, tintas,
lantejoulas, tecidos e fotografias.
A percepção da arte é algo muito pessoal e vai de encontro com a
características mais intrínsecas do espectador. No último 24 de
maio, estivemos no evento de arte de Joana Vieira, que abriu a sua
casa-atelier, para convidados. Foi uma grande oportunidade de ver de
perto, a magnífica obra desta artista que celebra o heterogêneo,
buscando elementos seculares, cujo conceito inicial se camufla por
detrás do conservador!
Para ser contemporâneo, enaltecer a diversidade e se utilizar de
bases tradicionais ou de raízes, é preciso ser inteligente e tocar
os diversos inconscientes. Em tempos em que movimentos sociais lutam
pela abolição do tradicional véu das mulheres iranianas e que no Brasil pedem
pela retirada dos crucifixos das salas de instituições públicas para
manutenção da laicidade do país, ou insistem no reconhecimento das
crenças afro-brasileiras como religião, Joana Vieira usa de sua
criatividade para mostrar que o inteligente é se comunicar de forma
inversa, ou seja, valorizando as óbvias raízes que a atualidade
taxou de conservadora, mas que, definitivamente, não são!
Ser inteligente e criativo é ir pela via contrária e mostrar o
sagrado já introduzido do sincretismo! Arte é isto, arte é não banir
as raízes, mas sim recria-las!
Promover a harmonia do diverso é criar um evento de arte com samba,
música eletrônica, cachaça e espumante. É mostrar uma obra,
nitidamente, com grande influência do Barroco católico, cristão!
Porém, mesclada de referências "mundanas" (no melhor sentido da
palavra)!
Quando falo de diversidade aqui, digo respeito às diversas
crenças, culturas e origens. O trabalho de Joana Vieira consegue
fazer isto de forma impressa!
Seu mundo se divide em fatias de brasilidade, com
seus elementos da cultura baiana embasada nas raízes africanas;
com sua matéria prima que nos remete às fantasias do nosso carnaval.
Uma outra fatia inclui um pouco do barroco andino, senti bastante
influência da escola cuzquenha na obra da artista! Indo bem mais
longe, há a fatia com influência da arte sacra filipina, cujo
detalhe marcante fica com o vermelho (e demais cores) da tapeçaria
intitulada "Sagrado Coração de Maria" que me trouxe a sensação de
estar presente na famosa festa da "Sexta Feira da Paixão", em
Manila, com seus ensanguentados corpos flagelados.
É claro, tudo que cito aqui provém da mesma influência
cristã-ibérica, mas enfatizo que houve a haverá mutações desta
realidade, assim como a interpretação da arte. Falar de espiritualidade
através de símbolos é materializar um energia! Agora, é preciso
espiritualizar a matéria resultante das nossas mutações físicas e
culturais, mutações que geram diferenças. Diferenças que o homem resiste
em aceitar. Negações que são motivos de guerras e disputas.
Fazer
da arte uma busca das raízes, pode ser uma maneira inclusiva de
celebrar as variantes finais da sensibilidade, de se mostrar as
diferenças de formas que migram aos extremos do mundo. É ter
conhecimento que qualquer diferença se torna igual ou se torna
invisível, quando enxergamos que a sua essência é a mesma, não
importando se a artista clamou por São Jorge, talvez Ogum! Ou se ela
homenageia o Espírito Santo, incluindo em sua obra as tradicionais
lanternas de papel, presentes na festa budista de Vesak, e que pode
representar o mesmo símbolo da libertação, em qualquer crença.
por ROBERTO CHRISTO
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