Há alguns anos eu, por acaso, assisti na TV a um filme que me marcou
muito. Sabe quando estamos em viagem, assistindo um dos vários canais a
cabo do hotel e pegamos o filme após iniciado? Na época não memorizei o
nome do filme, nem do diretor. Tempos depois, de volta ao Brasil, tentei
procurar algo sobre o filme e nunca encontrei.
Recentemente ganhei um livro sobre cinema e ao folheá-lo me deparo com o
foto de uma cena do desconhecido filme! Sim, era aquela obra cujos
maiores atrativos eram a arte e fotografia, justamente os elementos que
despertaram a minha atenção e fascínio! Corri para ler os créditos e lá
estava: The Wayward Cloud (por Tsai Ming-liang). Bingo! Após anos,
encontrei o que tanto queria e agora com a possibilidade de estudar sobre o diretor.
Então, o filme teve o título traduzido para "O Sabor da Melancia" e
narra o encontro de Hsiao-Kang com Shiang-Chyi, ele um ator pornográfico
e ela uma funcionária de uma video-locadora que reencontra um antigo
"crush" para novas experiências. A versão para o português vem do uso
constante da melancia como o símbolo de volúpia e do elemento água que
aparecem como protagonistas no contexto do filme.
O diretor, de maneira complexa, retrata a influência da urbanização na
vida de seus personagens! Aqui temos novos formatos dos espaços físicos
habitados pela população de Tawain e vivemos uma escassez de água que
assola a cidade. O resultado é uma valorização exacerbada da importância
de seguir os instintos que nos levam às relações interpessoais! Os
impulsos humanos se manifestam mais arduamente, no desejo sexual,
dificilmente consumado, decorrente das coincidências da proximidade
física causada pela falta de espaço; ou na busca ensandecida da preciosa
água, que com fartura estaria presente em uma suculenta melancia.
O roteiro, um pouco confuso, permitiu a inserção de números musicais,
todos muito bem produzidos e dentro da proposta verde-vermelha. A arte e
fotografia enriquecem os demais elementos do filme e o torna mais
interessante.
O diretor, conhecido como um representante da Nouvelle Vague
oriental, é famoso por explorar o ritmo lento, com planos longos e
poucos diálogos. A crítica destaca bastante seu outro filme, Vive
L’amour, com o qual o diretor ganhou o Leão de Ouro, em Veneza (este
ainda inédita para mim, mas vou buscar uma maneira de assisti-lo, o mais
breve possível!).
Portanto, fica aqui a dica para quem tem adoração pelo cinema oriental, como eu!
Abraços,
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