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** By ROBERTO CHRISTO **

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O que a censura de um filme tem em comum com os gays hoje no Brasil?

Fonte: Blogay por Vitor Angelo http://blogay.folha.blog.uol.com.br

No meio cinematográfico esse é o assunto faz um mês, a censura ou veto de exibição – como preferem alguns - do filme “A Serbian Film – Terror sem Limites”, em todo território nacional. Por determinação da juíza Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Rio de Janeiro, a ação movida pelo Diretório Regional do Partido Democratas (DEM) contra a película foi aceita. A razão justificada é que o filme apresentava, ou melhor – no olhar dos inquisidores – estimulava a pedofilia entre outras amoralidades. Logo se formou uma forte mobilização do meio de cinema (e parte da sociedade progressista) contra o veto, com petição pública em repúdio à ação, mostra de filmes censurados e no sábado, 06, o Festival de Gramado realiza seminário em repúdio à censura com foco no que aconteceu com o “A Serbian Film”.

Nas comunidades gays esse é o assunto dos últimos dias, a aprovação, na Câmara dos Vereadores de São Paulo, do Dia do Orgulho Heterossexual ou Dia do Homofóbico Enrustido – como preferem alguns. O dia foi criado por um vereador do DEM e pretende exaltar os valores da família. Logo se formou uma forte mobilização de gays e também héteros para que o prefeito Gilberto Kasssab vete essa aprovação com petição pública, artigos de inúmeros jornalistas questionando a data e no sábado, 06, organizado pelas redes sociais, tem a Marcha Pela Responsabilidade Política em frente da Prefeitura de São Paulo para questionar a tal lei.

Podemos perceber que as redes sociais têm cumprido um papel importante na efetivação e no aprendizado do que é ser cidadão no Brasil. Podemos perceber também a participação de um partido político, o DEM, no centro desses debates. É interessante notar que não por acaso, na árvore genealógica dos Democratas se encontra a Arena, o partido que reinou durante a ditadura militar, período de grande repressão e censura.

Mas são um pouco óbvias essas semelhanças. O ponto de comunhão entre esses dois assuntos está no que parecem ser suas diferenças. Enquanto um luta contra a censura, o outro deseja o veto.

Sobre o filme, em vídeo durante protesto contra a ação no Cine Odeon, o cineasta Eduardo Valente disse: “não assisti nem assistirei, mas sou a favor que seja exibido”. Um artigo interessante de Luciano Trigo, no portal G1, coloca a seguinte observação: “ se um programa de televisão contém cenas que incentivam o racismo ou a homofobia, ele pode ser retirado do ar. Isso não é censura, é cumprimento da lei, é a garantia democrática de minorias que se sentem atingidas lutarem pela não-circulação desses conteúdos”. Mas diferente da televisão, o cinema assim como outras manifestações artísticas partem de um espectador extremamente ativo, ele deseja assistir aquilo, muito diferente de uma certa passividade que a televisão impõe. Mesmo pensando na questão do controle remoto como um adicional para a atividade do telespectador, o ato de ir ao cinema, de escolha do que quer assistir, a grande maioria das vezes pagando ingresso, torna o espectador de cinema muito mais pleno de individualidade – em um certo sentido – do que o de TV.

Um dos argumentos contra o filme é que ele é a favor da pedofilia ou a enaltece – quem teve a chance de assistir o filme nega essa tese. Mas se a regra é válida, tanto o clássico “Lolita” de Vladimir Nabokov ou sua a versão cinematográfica feita por Stanley Kubrick (1962) como a dirigida por Adrian Lyne (1997) deveriam ser banidos para sempre, e assim também seria o caminho do seriado “Presença de Anita” que a TV Globo exibiu tempos atrás.

Outro argumento consegue ser pior que o moral que é de teor estético. Diz-se que o filme é ruim e por isso deve ser censurado, oras então o que “Assalto ao Banco Central” está fazendo nas telas? Brincadeiras à parte, além de perigoso, esse critério denuncia a ideia de autoritarismo, porque alguém com um gosto superior vai decidir se isso é bom ou ruim para os outros.

Sobre o Dia do Orgulho Heterossexual, já explanei em outro post as razões que servem aqui. Existe ali, um movimento de distorção de quem luta pelos seus direitos ainda não adquiridos na sociedade com o perverso discurso que se eles têm um dia, nós também vamos ter porque eles (os homossexuais) querem ser superior a nós. Mas se dia de hétero é todo dia, porque um dia específico para enaltecer algo que já é garantido. E o pior é a desculpa que serve para valorizar a família. Ora, isso representa que os gays não têm valores familiares e nem merecem, isto é, já na data está implícita a luta contra adoção de crianças por casais gays e mesmo a união homoafetiva. Enfim, é uma dissimulação que abre espaço para o autoritarismo, pois é mais uma data - se aprovada - de exaltação da superioridade do que de luta por direitos.

As conclusões são que tanto o veto como o ato contra a censura são iguais pois demarcam posições contra um certo autoritarismo crescente no país: o autoritário que quer dizer que filme devemos assistir ou que deseja – em desprezo às minorias ainda sem leis e direitos no Brasil – se orgulhar de sua soberania.

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