Como contar a história de uma solitária criança de rua, abandonada, sem limar o brilho, a inocência e a pureza do momento pueril humano?
Só assistindo "Ouvindo Estrelas".
A peça, primeiramente, destinada ao público mirim (digo isto, pois os crescidos também se emocionam) é uma infusão da leve e doce fantasia infantil à realidade adulta envolta às agruras do mundo.
Aqui, estamos falando de um mundo que nos faz de testemunhas insensíveis daquilo que nos é apresentado o tempo todo, mas não enxergamos. Inclui-se ali o lixo e o tesouro. Somente então, nos damos conta de algo chamado emoção.
Só assistindo "Ouvindo Estrelas" adultos e crianças são capazes de sentir a força real, as vezes cruel, do nosso folclore traduzido em frases feitas, canções históricas e brincadeiras da nossa cultura. A partir delas chegamos ao âmago de uma mensagem sustentada por três pilares:
a. A democracia do amor: Não importa quem, onde ou quando, mas o amor, mesmo saindo do imaginário, pode curar qualquer ferida. Afinal, ele é a energia das energias! No espetáculo os personagens exalam e sobrevivem alimentados pelo amor.
b. A atemporalidade da fantasia: Não há como negar, a fantasia não é um privilégio só das crianças, ela acompanha o ser humano do começo ao fim. Afinal, a fantasia acaba por dizer muito da verdade que todos procuram. No espetáculo somos submetidos ao real efeito das tradicionais fantasias, através dos personagens que analisam nossos ditados e frases feitas. Indo da frivolidade à consistência.
c. A presença do elemento transcendental está em todos nós: Que me perdoem os discordantes! Mas, religiosos, supersticiosos, crentes... mesmo os céticos, agnósticos, ateus e afins... todos nós vivemos submersos em crenças metafísicas, ainda que não tenhamos consciência disto. O espetáculo nos apresenta o lúdico como o irmão gêmeo do transcendental.
Notem que tal processo de percepção só me foi possível graças à genialidade do texto, ao sensível trabalho dos atores e dos demais aspectos que criam a atmosfera cênica.
Enfim, mesmo que minhas palavras possam demonstrar alguma complexidade da obra, o espetáculo não é nada denso ou difícil de digerir! Do contrário, é tocante e gostoso de vivenciar. Sejam para cabeças infantis, adultas ou sem estes rótulos chatos.
Um aviso importante. Minhas considerações sobre esta peça podem soar piegas, mas garanto que a "PH Cia de Teatro e Circo" através do "Ouvindo Estrelas" foi capaz de extirpar qualquer neutralidade, frieza ou distância de seus espectadores, pois quem vai ao teatro não só assiste ao espetáculo, mas o vive. Asseguro que isto é notório a partir dos diversos ângulos e mentes que o experimentam!
A peça está participando do Festival de Teatro de Curitiba e volta à São Paulo para as apresentações finais nos dias 02 e 03 de Abril, às 11:00 no Teatro TOP - Rua Rui Barbosa, 201 - Bela Vista.
Produção: PH Cia de Teatro e Circo
Texto e Direção: Francisco Alves
Com Kelly Lima e Marcelo Sales
Consulte preços especiais para grupos escolares de crianças através do email: ouvindoestrelas.reservas@gmail.com
ROBERTO CHRISTO